quinta-feira, 10 de julho de 2008

VOYAGE, VOYAGE...

As primeiras surfadas.

"The wild bunch"

Para ser sincero, não tenho qualquer recordação da viagem até Marrocos. Sei que acabámos por ser quatro. O Pedro (filho) e a sua namorada, uma miúda sensacional que aos 16 anos já tinha percorrido a Europa em comboio, o Manel aluno de medicina, meu companheiro do Va Va e à época MRPP convicto, e Je, claro. A ideia era chegar rapidamente a Marrocos e foi o que fizemos sem maiores contratempos.
Passadas as burocracias da chegada, que 30 anos depois se mantém mais ou menos inalteradas, dirigimo-nos rapidamente para a costa à procura de mar e ondas. Sei que pelo caminho até Casablanca, a Combi foi dando algumas manifestações de má disposição, que na altura julguei serem da caixa de velocidades, mas que mais tarde se revelaram trágicas. Aqui cabe contar um episódio bastante revelador da mentalidade marroquina. Em Casablanca, e perto da residência do Rei, procurávamos uma oficina onde averiguar a razão dos persistentes grunhidos da amarelinha. Achámos por bem solicitar, muito educadamente, a colaboração de um agente da autoridade que se encontrava a tentar controlar o caótico trânsito das "mobilettes" e "petits táxis". Solícito, começou a dar-nos indicações extremamente precisas sobre o caminho a seguir, devidamente ilustradas por inúmeras referencias geográfico-paisagísticas. Chegado ao fim, e tomando consciência da sua competência, olhou-nos nos olhos e disse: “Ça, c’est une três bonne explication” (isto é uma óptima explicação). Tendo dito, virou-nos as costas e afastou-se repetindo sem parar a sua brilhante constatação.
Claro que demos com a oficina, mas o diagnóstico não nos pareceu convincente e como a máquina se estava a portar bem desde o nosso encontro com a autoridade, dirigimo-nos para a primeira praia que o Pedro (pai) nos tinha indicado.
Não me recordo o nome e não a consegui localizar posteriormente, mas sei que ficava perto de uma base militar dos USA. As ondinhas estavam do melhor para mim, razoável nabo, e o Pedro embora achando que estava pequeno, lá foi sacando umas surfadas enquanto me dedicava ao meu desporto favorito: dar banho à prancha.
Tivemos mais tarde um episódio menos brilhante, quando o Manel que se julgava fotógrafo, começou, sem pedir licença, a fotografar uns noivos que passavam no molhe. Como o nosso rapaz, cabeludo como era da prache, moreno e de bigodes, não reagiu muito bem às investidas dos mouros que lhe queriam sacar a máquina (Nikon XPTO), tivemos de usar de alguma diplomacia para bater em retirada sem maiores contratempos.

Léxico.
MRPP , movimento reorganizativo do partido do proletariado, também conhecido por alguns como “meninos rabinos que pintam paredes” (muito activos no pós 25 de Abril nas decorações murais realizaram alguns frescos verdadeiramente espantosos).
Va Va, nome de um jogador de futebol (brasileiro) e café carismático do bairro de Alvalade muito frequentado pela “inteligentzia” artística lisboeta.
Mobilettes, motorizadas tipo aceleras francesas, que os marroquinos construíam e modo de locomoção privilegiado dos locais remediados.
Petits Taxis, como o nome indica, os táxis de lotação mais reduzida (embora 7 pessoas não fossem demasiadas), geralmente de marca francesa, tipo Peugeot 404, ou Simca Aronde. Vi recentemente um desses onde para além dos inúmeros passageiros amontoados pelos bancos, se encontrava um virado de costas para a frente sentado ao colo do condutor.

2 comentários:

@ღღ@ disse...

vim kuskar ;)
tem graça que um ancien eric janty bem mais novinho que nos anda a dar a volta ao mundo numa muito parecida ;)

Rik Y Rishi disse...

Ola Anna. Pois neste momento estou a ver se ponho o meu T REX, Hanomag AL-28 4X4 de 1968 para partir "en famille" até à India (para começar). Abcs